Segundo Vasconcelos (2011), tanto no caso de Salvador, como também
no de Recife e no do Rio de Janeiro, o comércio de escravos não obedecia ao
chamado “tráfico triangular” sendo realizado diretamente entre os portos
exportadores de escravos africanos e os referidos portos brasileiros.
Importantes quantias eram investidas na armação de barcos e equipes, em
alimentos, na exportação de mercadorias de troca, sobretudo o fumo baiano, mas
um enorme lucro era realizado, apesar do alto risco da travessia, risco
ampliado com o início das atividades repressivas da marinha britânica a partir
de 1810.
Uma primeira dificuldade consiste na definição: quem eram esses
traficantes? Eram portugueses ou brasileiros?
Desde meados do século XVIII um
monopólio teria sido estabelecido sob o controle de 40 negociantes da Bahia e
20 de Pernambuco, com um limite de utilização de 24 navios para o tráfico de
escravos (PINHO, 1982, p.312).
Por outro lado, esses lucros ficavam nas cidades portuárias e
deviam ser aplicados em várias atividades, desde os investimentos necessários
para a continuação do tráfico, como a compra de barcos, equipamentos e
manutenção de equipes (marinheiros, feitores, capelães etc.), como em
investimentos em capelas igrejas, diante da mentalidade religiosa do período; e
ainda em solares e outros imóveis residenciais e comerciais; no financiamento
da produção agrícola etc.
Já a partir de 1745, a capela do Senhor do Bonfim,
foi construída por Teodózio Rodrigues de Farias, proprietário de três navios
negreiros (VERGER, 1987).
Para o historiador Luiz Viana Filho, o tráfico era a atividade
mais lucrativa da Bahia no século XVIII (VIANA FILHO, 1976, p.12). A informação
de que 6.600 escravos foram vendidos da Bahia para as Minas entre 1760 a 1765,
apesar da taxa de 9$000 cobrada para cada escravo (AMU, p.104), pode dar uma
ideia do lucro realizado diante dos preços elevados dos escravos nas regiões
mineiras.
Por essas estimativas, e pelos sinais de riqueza acumulada por
alguns traficantes, podemos levantar a hipótese de que, nos séculos XVIII e
XIX, eles podem ter sido agentes equivalentes ou mesmo mais importantes para a
economia da Bahia que os produtores de açúcar.
Os preços dos escravos sempre
foram elevados, e apesar da pressão inglesa até 1850, o lucro deste comércio
deve ter sido um dos principais elementos sustentadores da economia baiana, o
que ajuda a explicar a construção de magníficos prédios religiosos e civis em
períodos de crise da produção açucareira.
REFERÊNCIAS:
VASCONCELOS,
Pedro de Almeida. Salvador, rainha destronada? (1763-1823). História (São
Paulo) v.30, n.1, p.174-188, jan/jun 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/his/v30n1/v30n1a08.pdf>
[Acesso em 17/04/2016].
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