Muitas eram as agremiações carnavalescas que alegravam nosso
bairro, alguns ainda existem, outros não mais e é algo que percebi conversando
com os moradores um sentimento saudosista.


Dona Lúzia, 80 anos, conta que era muito bom, porque eles não
precisavam se deslocar. “Todo mundo alegre, brincando, tinha os pierrôs, que
era os meninos tudo fantasiado.”
Dona Celimar, mais conhecida por Dona Celi, 81 anos, conta a mesma
coisa. “O bom era que não precisava sair, mas eu só ficava olhando eles
passarem pela rua.”
E quais eram essas agremiações carnavalescas?
Tinha os Afoxés, um afoxé, segundo Lody (1976) é como um “candomblé
de rua”, por trazer de dentro dos terreiros de candomblé para as ruas o ritmo
ijexá e trazer nos seus cortejos rituais pertencentes ao culto aos Orixás das
casas de candomblé.
Amorim (2011) traz que um Afoxé também é o nome de um instrumento
de origem africana, um instrumento musical idiofônico, um tipo de xequerê,
feito de cabaça coberta com uma rede de conchas, contas ou sementes.
Um afoxé muito conhecido em nosso bairro é o afoxé Badauê que foi
criado em nosso bairro em 13 de maio de 1978 por um grupo de jovens ativistas
culturais que se auto denominavam grupo
jovem louco pelo fato de seus ensaios acontecerem perto de um hospital
psiquiátrico, Moa do Katendê foi um dos fundadores. Esse afoxé saiu no carnaval
de Salvador pela primeira vez em 1979.
Conforme Amorim (2011), ao entrevistar Moa do Katendê, este conta
que o Badauê fazia o seguinte circuito:
(...)a gente saia da curva da ladeira de Nana que é a área da
gente mesmo e ganhava o bairro todo até o fim de linha ali a gente se despedia
do circuito, desfile da gente no bairro e íamos para a cidade para desfilar na
cidade. Teve momentos de a gente sair no Campo Grande como teve momentos de a
gente sair da Ladeira da praça, subir e ganhar a praça municipal e seguir para
o Campo Grande, então fizemos dois percursos, durante meu tempo em
79,80,81,82,83,84, seis anos ele fez este percurso no carnaval, depois ele
segui com outras pessoas aí que continuaram. (Moa do Katendê entrevista em
7/5/2009)
Assis et al (2010) traz que o acompanhamento de ensaios levou os cantores e compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, o escritor Antônio Risério e o etnólogo Pierre Verger a dedicarem parte de seus trabalhos ao Badauê.
Alburqueque (2002) coloca que além dos Afoxés
tínhamos também os antigos clubes negros Embaixada Africana e Pândegos D'África
que surgiram em 1895 e 1900, respectivamente, e tinha entre seus fundadores
negros mais abastados.
Estas agremiações segundo Amorim (2011) eram
chamadas por Nina Rodrigues de Afoxés, mas não se caracterizavam como tal, pois
não faziam parte de comunidades religiosas africanas e apenas usavam
instrumentos característicos de afoxés como atabaques e agogôs.
REFERÊNCIA
AMORIM,
Antonio Sergio Brito de. Memória e identidade musical no engenho velho de
brotas. XI Congresso Luso Afro Brasileiro de Ciências Sociais. Diversidades e
(Des)igualdades. Universidade do Federal da Bahia (UFBA) – PAF I e II, Campus
de Ondina, Salvador, 2011. Disponível em:
<http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/resources/anais/3/1307580179_ARQUIVO_CONLABANTONIOSERGIOBRITODEAMORIM.pdf> [ACESSO EM 27/02/2016].
Engenho das Memórias. Organização: Márcio Nicory (Professor da
Oficina de Pesquisa e Memória do Ponto
de Cultura) | Pesquisa e textos: Chicco Assis, Márcio Nicory e agentes
de pesquisa da oficina de Pesquisa e Memória – Adriana Régis, Andréa Betânia da
Silva, Ednéia Rodrigues, Leila Leal, Mauro Góis | Imagens: Oficina de Pesquisa
e Memória, Acervo do Memorial Juliano Moreira, do GRID e do Grupo Badauê |
Revisão e seleção de imagens: André Araújo e
Viviane Andrade | Projeto gráfico, diagramação e ilustração: Aline Cruz
| Impressão: EGBA |Disponível em: <https://ascomfunceb.files.wordpress.com/2010/10/2010-o-engenho-das-memorias-cine-teatro-solar-boa-vista.pdf>
[Acesso em 28/02/20016].
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