segunda-feira, 6 de junho de 2016

AS AGREMIAÇÕES CARNAVALESCAS: HERANÇA CULTURAL!

Muitas eram as agremiações carnavalescas que alegravam nosso bairro, alguns ainda existem, outros não mais e é algo que percebi conversando com os moradores um sentimento saudosista.
                       
Dona Lúzia, 80 anos, conta que era muito bom, porque eles não precisavam se deslocar. “Todo mundo alegre, brincando, tinha os pierrôs, que era os meninos tudo fantasiado.”
Dona Celimar, mais conhecida por Dona Celi, 81 anos, conta a mesma coisa. “O bom era que não precisava sair, mas eu só ficava olhando eles passarem pela rua.”
E quais eram essas agremiações carnavalescas?
Tinha os Afoxés, um afoxé, segundo Lody (1976) é como um “candomblé de rua”, por trazer de dentro dos terreiros de candomblé para as ruas o ritmo ijexá e trazer nos seus cortejos rituais pertencentes ao culto aos Orixás das casas de candomblé.
Amorim (2011) traz que um Afoxé também é o nome de um instrumento de origem africana, um instrumento musical idiofônico, um tipo de xequerê, feito de cabaça coberta com uma rede de conchas, contas ou sementes.
Um afoxé muito conhecido em nosso bairro é o afoxé Badauê que foi criado em nosso bairro em 13 de maio de 1978 por um grupo de jovens ativistas culturais que se auto denominavam grupo jovem louco pelo fato de seus ensaios acontecerem perto de um hospital psiquiátrico, Moa do Katendê foi um dos fundadores. Esse afoxé saiu no carnaval de Salvador pela primeira vez em 1979.
Conforme Amorim (2011), ao entrevistar Moa do Katendê, este conta que o Badauê fazia o seguinte circuito:
(...)a gente saia da curva da ladeira de Nana que é a área da gente mesmo e ganhava o bairro todo até o fim de linha ali a gente se despedia do circuito, desfile da gente no bairro e íamos para a cidade para desfilar na cidade. Teve momentos de a gente sair no Campo Grande como teve momentos de a gente sair da Ladeira da praça, subir e ganhar a praça municipal e seguir para o Campo Grande, então fizemos dois percursos, durante meu tempo em 79,80,81,82,83,84, seis anos ele fez este percurso no carnaval, depois ele segui com outras pessoas aí que continuaram. (Moa do Katendê entrevista em 7/5/2009)

Assis et al (2010) traz que o acompanhamento de ensaios levou os cantores e compositores Caetano Veloso e Gilberto Gil, o escritor Antônio Risério e o etnólogo Pierre Verger a dedicarem parte de seus trabalhos ao Badauê.
Alburqueque (2002) coloca que além dos Afoxés tínhamos também os antigos clubes negros Embaixada Africana e Pândegos D'África que surgiram em 1895 e 1900, respectivamente, e tinha entre seus fundadores negros mais abastados.

Estas agremiações segundo Amorim (2011) eram chamadas por Nina Rodrigues de Afoxés, mas não se caracterizavam como tal, pois não faziam parte de comunidades religiosas africanas e apenas usavam instrumentos característicos de afoxés como atabaques e agogôs.

REFERÊNCIA
AMORIM, Antonio Sergio Brito de. Memória e identidade musical no engenho velho de brotas. XI Congresso Luso Afro Brasileiro de Ciências Sociais. Diversidades e (Des)igualdades. Universidade do Federal da Bahia (UFBA) – PAF I e II, Campus de Ondina, Salvador, 2011. Disponível em: <http://www.xiconlab.eventos.dype.com.br/resources/anais/3/1307580179_ARQUIVO_CONLABANTONIOSERGIOBRITODEAMORIM.pdf> [ACESSO EM 27/02/2016].

Engenho das Memórias. Organização: Márcio Nicory (Professor da Oficina de Pesquisa e Memória do Ponto  de Cultura) | Pesquisa e textos: Chicco Assis, Márcio Nicory e agentes de pesquisa da oficina de Pesquisa e Memória – Adriana Régis, Andréa Betânia da Silva, Ednéia Rodrigues, Leila Leal, Mauro Góis | Imagens: Oficina de Pesquisa e Memória, Acervo do Memorial Juliano Moreira, do GRID e do Grupo Badauê | Revisão e seleção de imagens: André Araújo e  Viviane Andrade | Projeto gráfico, diagramação e ilustração: Aline Cruz | Impressão: EGBA |Disponível em: <https://ascomfunceb.files.wordpress.com/2010/10/2010-o-engenho-das-memorias-cine-teatro-solar-boa-vista.pdf> [Acesso em 28/02/20016].

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