terça-feira, 7 de junho de 2016

ENGENHO DE TODOS OS TEMPOS!

















ENGENHO VELHO DE BROTAS: POR OUTROS OLHARES

Aqui realizei entrevista com os irmãos Celimar (81 anos), Heliomar (80 anos) e Jurimar Carvalho (85 anos), estes relataram como era o bairro na época em que moraram lá.
Senhora Celimar ainda é moradora do bairro e fala que o bairro continua a mesma coisa do que era no seu tempo, só em alguns pontos que modificaram, como o crescimento do fim de linha do bairro, que antes era até o que conhecemos hoje como Supermercado Nova Ondina.

Os irmãos também contaram que moraram na ladeira de Nanã, uma ladeira que existe até hoje, mas que naquela época, por volta da década de 40, mais ou menos, a rua era toda de cascalho, onde no máximo brincavam na porta de casa, pois ninguém vivia na casa de vizinho. 

"Brincava de gude na porta de casa", conta Dona Celimar.

O Senhor Heliomar ainda completa:
“Se um amiguinho chamasse pra brincar na casa dele, tinha que inventar que estava com dor de barriga, dor dente, qualquer coisa, pois já bastava nosso pai olhar, e já sabíamos a negativa.”

Os irmãos também contam que apesar dessa rigidez, os vizinhos tinham uma ótima convivência e relação amistosa, que podiam ficar com as portas de casa abertas sem medo, não havia violência, nem receio de roubos.

          Falaram do Manicômio Juliano Moreira, que viam os doentes mentais se segurando nas grades. A primeira esposa de Sr. Jurimar trabalhava lá e ele conta que alguns doentes mentais eram já bem conhecidos, pois volta e meia fugiam. 

       No que concerne ao deslocamento, contaram que pra ir comprar o pão tinha que descer a Ladeira do Galés, pois a única padaria que tinha era lá. 
No vídeo temos outros relatos sobre esta questão de mobilidade, entre outros assuntos, como o do lazer, o que faziam pra se divertir.






Ladeira de Nanã 
(vista de cima - como se estivesse descendo em direção ao Dique do Tororó)

OUTROS ASPECTOS DO BAIRRO: GEOGRAFIA, ECONOMIA LOCAL, RELIGIOSIDADE, ARQUITETURA E HABITAÇÃO

Não podemos deixar de falar de outros aspectos como a economia local, aspectos da religiosidade e da arquitetura e habitação.

O comércio no bairro do Engenho Velho de Brotas é muito diversificado como na maioria dos bairros populares de Salvador. 
A economia se baseia principalmente nas atividades terciárias (comércio bastante variado pertencente a habitantes do local, escolas, etc).
Encontramos de tudo um pouco e os moradores da região não precisam sair do bairro para comprar produtos de primeira necessidades. Com muitos mercadinhos e casas comerciais em todo o bairro.
Considerado o segundo bairro mais populoso de Salvador e também um conhecido gueto afrodescendentes, a religião africana (o candomblé) é predominante na região, com terreiros respeitados e espalhados pelo bairro. Mas, o que podemos perceber, conforme relatos de alguns moradores da comunidade é que o perfil religioso no Engenho Velho de Brotas foi se modificando com o passar dos anos, antes a cultura do bairro era voltada para a religião de matriz africana, com muitos terreiros ao longo das ruas, hoje o que se vê é a mudança da ocupação de terreiros de candomblé por templos e igrejas cristãs, ou seja, igrejas católias e evangélicas.
A arquitetura das casas modificaram ao longo do tempo, algumas poucas ainda mantém as mantém.








“Além das avenidas de vale, vários conjuntos habitacionais foram implantados no período, destacando-se, entre 1969 e 1978, a construção de 1432 apartamentos pela Urbis, no conjunto Solar Boa Vista, e de 2882 apartamentos pelas cooperativas da Inocoop.” (VASCONCELOS, 2002, p. 362) "ENGENHO em MEMÓRIAS" (2010)            

GEOGRAFIA




PERSONAGENS HISTÓRICOS

Manuel Faustino dos Santos Lira nasceu em Salvador, filho de uma escrava liberta. Em meados da década de 1790, com apenas 18 anos de idade, passou a frequentar reuniões secretas nas quais se discutiam os ideais da Revolução Francesa e sua possível aplicação na sociedade. 
Assim surge a Revolta dos Búzios ou Conjuração Baiana, em 1798, movimento que teve fundamental participação de escravos e seus descendentes, discutindo os caminhos para o Brasil livre da tutela portuguesa, visando uma república na qual a cor da pele não fosse razão para discriminação.
Estes heróis, que plantaram a semente da independência da Bahia 30 anos depois, colocavam nos muros da cidade papéis manuscritos chamando a população à luta: “está para chegar o tempo feliz da nossa liberdade: o tempo em que seremos irmãos: o tempo em que todos seremos iguais”... “Homens o tempo é chegado para vossa ressurreição, sim para que ressuscitareis do abismo da escravidão, para que levantareis a sagrada Bandeira da Liberdade”.
Temendo uma revolta do povo, governava a Bahia nessa época D. Fernando José de Portugal e Castro, que encarregou o coronel Alexandre Teotônio de Souza de surpreender os revoltosos. Manuel Faustino dos Santos Lira foi um dos quatro condenados à morte por enforcamento, sendo executados na Praça da Piedade.

Próxima da Rua Manuel Faustino temos a Rua Maria Felipa. Outra heroína negra, natural de Itaparica, ela se ofereceu como voluntária para espionar as tropas portuguesas em 1822. Maria Felipa foi uma liderança destacada na luta contra o domínio português, quando comandou dezenas de homens e mulheres, negros e índios, na queima de 42 embarcações de guerra que estavam aportadas na Praia do Convento, prontas para atacar Salvador. 
Esta ação foi vital para a Independência da Bahia, hoje comemorada no dia 02 de Julho. Em sua biografia destaca-se também a lendária história de quando Maria Felipa usou galhos de cansanção para dar uma surra nos vigias portugueses Araújo Mendes e Guimarães das Uvas. 
O atestado de óbito de Maria Felipa, datado de 04 de janeiro de 1873, dá uma dimensão de que após a luta da Independência, ela continuou tocando sua vida de marisqueira na ilha, até morrer.



Mestre Bimba (1900-1974)
Nascido em 23 de novembro de 1900, na então freguesia de Brotas, no atual Engenho Velho de Brotas, Manoel dos Reis Machado, filho de Luís Cândido Machado e de Dona Maria Martinha do Bomfim, Mestre Bimba, como veio a ser conhecido, foi o criador da Capoeira Regional. 
Fundindo estilos, aproveitando golpes do “batuque”, do qual seu pai era praticante e campeão, e outras artes marciais, mudando movimentos e ritmo, mexendo na malícia e postura do capoeirista, e criando um código de ética rigoroso, fundou este novo estilo. 
Mais que uma luta, Bimba queria recuperar o valor da capoeira como arte marcial, principalmente como estilo de vida. Daí, o rigor e sistemático acompanhamento pedagógico aos seus alunos-praticantes.

MINHAS RUAS DA INFÂNCIA: RUA ALMIRANTE ALVES CÂMARA E RUA DOS TROVADORES

Esta é a Rua Almirante Alves Câmara, morei nesta rua até os 10 anos de idade. 
Trago aqui história dele, mas não encontrei nada em minhas pesquisas que o relacionasse ao bairro de maneira mais significativa, o que nos faz pensar que foi uma mera homenagem patriótica, o mesmo nome foi dado ao Terminal de Petróleo (TEMADRE) localizado em Madre de Deus, Bahia.
Antônio Alves Câmara Júnior nasceu em Salvador (BA) no dia 5 de agosto de 1891, filho do contra-almirante Antônio Alves Câmara e de Breginata Brasil Câmara. 
Frequentou o Colégio Militar (RJ), ingressando em 1908 na Escola Naval. Em março de 1916, foi promovido à primeiro-tenente, servindo no cruzador Bahia.
Em 1919, foi designado para servir na Diretoria de Hidrografia. Foi promovido a capitão-tenente em novembro de 1921. Em maio de 1924, assumiu o comando do Tenente Lahmeyer, sendo exonerado um ano depois.
Em 1926, foi transferido para o cruzador Bahia e rumou para a Filadélfia, nos Estados Unidos da América (EUA). Em 1928, foi designado para servir na Diretoria de Armamento, de onde sairia no ano seguinte ao ser nomeado encarregado de navegação do encouraçado São Paulo. Em novembro de 1930, logo após a revolução, foi dispensado de seu cargo. 
No início de 1932, exerceu por um mês o comando da Escola de Aprendizes de Marinheiro do Rio Grande do Norte, e foi promovido a capitão-de-corveta.
Em 10 de outubro de 1932, Alves Câmara foi preso e recolhido ao navio auxiliar Pedro I por suspeita de envolvimento com a Revolução Constitucionalista. Em 1934 foi nomeado comandante do navio auxiliar Rio Branco. Permaneceu no cargo até março de 1937, quando foi designado para servir na Diretoria de Navegação, onde se encontrava quando ocorreu o golpe do Estado Novo.
Em julho de 1938, foi designado técnico do Ministério da Marinha junto ao Conselho Nacional de Geografia e, em outubro, foi promovido a capitão-de-fragata. Em janeiro de 1941, foi designado para servir na seção de informações do Estado-Maior da Armada (Ema). 
Quatro meses depois se desligou do Ema por ter sido nomeado comandante do contratorpedeiro Mariz e Barros, posto que ocuparia até o final da Segunda Guerra Mundial. Após ser promovido a capitão-de-mar-e-guerra em julho de 1944, Alves Câmara voltou à Filadélfia (EUA) para receber armamento projetado para o Mariz e Barros
Em abril de 1945 assumiu o comando do encouraçado São Paulo. A partir de outubro passou a representar a Marinha junto à comissão encarregada de estudar o mapeamento do território nacional. 
Em janeiro de 1946, foi promovido a contra-almirante, assumindo o cargo de diretor-geral de Hidrografia e Navegação da Armada. Exonerado deste cargo em março de 1949, passou a dirigir a Escola Naval.
Foi promovido a vice-almirante em fevereiro de 1952, sendo a seguir exonerado da Escola Naval para assumir pela segunda vez a Diretoria de Hidrografia e Navegação. Em 1953, foi nomeado inspetor-geral da Marinha e, pouco depois, secretário-geral da Marinha. 
Exonerado da Secretaria Geral em janeiro de 1954, foi nomeado adido naval junto à embaixada brasileira em Washington. Em julho desse ano foi promovido a almirante-de-esquadra, e em janeiro do ano seguinte retornou ao Brasil.
Em 1955, Juscelino Kubitschek e João Goulart foram eleitos presidente e vice-presidente da República, iniciando-se um movimento das forças derrotadas, com fortes bases no governo, no sentido de impedir a posse dos eleitos. Kubitschek manteve Alves Câmara à frente do Ministério da Marinha. 
No mês seguinte, eclodiu a Revolta de Jacareacanga (PA), envolvendo militares da Aeronáutica sob a chefia do major-aviador Haroldo Veloso e do capitão-aviador José Chaves Lameirão. Com os outros ministros militares, Alves Câmara colaborou para debelar o movimento, o que foi alcançado em uma semana.
Em fins de 1956, ainda durante a gestão de Alves Câmara à frente da pasta da Marinha, o governo brasileiro autorizou a aquisição do porta-aviões Vengeance, rebatizado como Minas Gerais.

Esta é a Rua dos Trovadores, morei nesta rua dos 10 aos 26 anos.

Não há relatos oficiais que expliquem o porquê deste nome para essa rua, mas se formos analisar quem eram os Trovadores, segundo o site "Vírus da arte & cia", os Trovadores faziam parte da nobreza e compunham música e poesia tendo o amor como tema preferido. Viviam de favores nas cortes.
Suas poesias eram chamadas de cantigas, havendo dois tipos delas: lírico-amorosas (cantiga de amor e cantiga de amigo) e satíticas (além de expressarem o seu eu lírico amoroso, também se preocupavam em ridicularizar os costumes da época, ou seja, os falsos valores morais).
As cantigas eram escritas à mão e reunidas em livros conhecidos como Cancioneiros. Pode-se dizer que o trovadorismo foi a primeira manifestação literária da língua portuguesa.
Isso nos remete automaticamente ao poeta Castro Alves e à sua obra, além de poesia de caráter social, este grande escritor também escreveu versos líricos-amorosos, de acordo com o estilo de Vítor Hugo. Pode-se dizer que Castro Alves foi um poeta de transição entre o Romantismo e o Parnasianismo.

REFERÊNCIAS
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS - CPDOC. Disponível em: <http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/JK/biografias/Alves_Camara> [Acesso em 07/06/2016];


VÍRUS DA ARTE & CIA - 
Site brasileiro especializado em arte e cultura. Disponível em: <http://virusdaarte.net/os-menestreis-e-os-trovadores/>. [Acesso em 07/06/2016].


TERREIROS DE CANDOMBLÉ

O candomblé do Engenho Velho de Brotas, de uma forma ou de outra, deu nascimento a todos os demais, e foi o primeiro a funcionar regularmente na Bahia.
TERREIRO DO BOGUM: ZOOGOODÔ BOGUM MALÊ RUNDÔ
             
Localizado na Ladeira Bogum, antiga Manoel Bonfim, o Terreiro do Bogum, Zoogodô Bogum Malê Rundó, diferente dos outros terreiros de Salvador, é de nação Jeje, com tradição ligada ao Benin. Os Jeje entraram no Brasil por volta do século XVII e início do século XVIII, sua marca cultural tem registro na Bahia e em Mina.
A língua falada em seus rituais é o ewé, do povo fon, e as entidades cultuadas são os voduns do Daomé. A sucessão no Terreiro do Bogum se dá pela linhagem e através dos búzios. Mãe Índia, chefe do terreiro do Bogum, é sobrinha-neta de Valentina, Mãe Runhó. Uma das tradições do Terreiro é a missa em homenagem a São Bartolomeu, realizada anualmente há duzentos anos. Conta-se que neste terreiro refugiavam-se escravos e negros malés.
- CASA BRANCA DO ENGENHO VELHO
              
Situada na Avenida Vasco da Gama, a Casa Branca do Engenho Velho, ou Ilê Axé Iyá Nassô, foi tombada em 1984 e é considerada o primeiro Monumento Negro do Patrimônio Histórico do Brasil.

Conta-se que a Casa Branca é a primeira casa de candomblé aberta em Salvador. O centro foi fundado em um engenho de cana, então transferido para uma roça na Barroquinha – ainda nos limites urbanos da cidade. 
Com o crescimento do centro administrativo da cidade de Salvador, ocorre uma migração da população para outras áreas. Iya Nassô, uma das negras africanas fundadoras do terreiro, arrendou terras do Engenho Velho do Rio Vermelho de Baixo, estabelecendo aí o primeiro Terreiro de Candomblé. 
Este agrupamento conta com mais de 300 anos de existência, a sucessão da se dá através da linhagem familiar. Atualmente a Iyalorixá Altamira Cecília dos Santos é a mãe de santo da casa.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

PRESTAÇÃO DE SERVIÇO: centros de saúde, lavanderia comunitária, escolas, segurança, etc...

Nosso bairro além dos pontos de cultura conta com vários prestadores de serviços, como o Centro de Assistência Psicossocial Aristides Novis, o qual o GRID realiza um grande trabalho com os doentes mentais que são atendidos lá. Infelizmente esse trabalho encontra-se parado, pois os funcionários estão em greve.
Temos também o Posto de Saúde Santa Luzia, que oferece além de atendimento médico de diversas especialidades, como: clínico geral, ginecologia, pediatria, oferta apoio assistencial de controle da pressão arterial, diabetes e vacinação
Há também a associação comunitária de mesmo nome. 
Contamos com o NASPEC - Núcleo Assistencial a Pessoa com Câncer e atende não só a comunidade local, mas também a pessoa do interior da Bahia. Da mesma forma, acontece com Delegacia Especial de Atendimento a Mulher (DEAM)atendendo especificamente, aos problemas relacionados ao sexo feminino; contudo, são prestados serviços a ocorrências no bairro e estes encaminhados para as devidas delegacias, ambas ficam no fim de linha do bairro, na rua Padre Luiz Filgueiras.
O bairro também conta com uma lavanderia comunitária e é servido de escolas públicas: Colégio Estadual Cidade de Curitiba, Colégio Estadual Lêda Jesuíno dos Santos, Colégio Municipal João XXIII, Escola Maria Romana Calmon, Escola Municipal Martagão Gesteira.


Na Ladeira do Ogunjá (Rua Professor Aloísio de Carvalho Filho) também se encontra o Cidade Mãe, e o CREA-BA: Conselho Regional de Engenharia e Agronomia da Bahia.